Quando usar a crase

A crase é a contração da preposição a com o artigo a ou as, com o pronome demonstrativo a ou as, ou com a inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo.

Mais uma vez vamos recorrer ao livro do Rogério Barbosa Lima, a Novíssima Gramática do Velho Português, para saber como e quando usar a crase (e quando não usar).  Devemos lembrar que a crase não se confunde com o acento. O acento grave serve para assinalar a crase.

  • Artigo a ou as: Dona mariquinha foi à missa. Nós vamos às mulheres.
  • Pronome demonstrativo a ou as: Vou me declarar à garota de tranças.
  • Inicial dos pronomes aqueles(s), aquela(s), aquilo: O deputado fez alusão àqueles caraminguás.

Se não houver a presença de preposição ou do artigo, não haverá crase:

  • A ocasião faz o ladrão.
  • Não digas isso a ninguém.
  • Lançaram-se a nova ofensiva.

Casos em que definitivamente não há crase:

  • Sempre que inexistir o artigo a(s) antes do termo dependente: A cartas, cartas. A palavras, palavras.
  • Antes de palavras masculinas: A alfaiate pobre, a agulha se lhe dobra. Entregue a pasta 007 a Clodovil.

Ocorrendo elipse (omissão) das palavras moda e maneira, haverá crase:

    • O alfaiate usava cabelos à Sansão.
    • Adoro calçados à Luís XV.
  • Antes de substantivos femininos usados em sentido geral e indeterminado: “Mulher em trabalho de parto, sem carteira assinada, tem direito a licença?”
  • Antes de nomes de parentesco, precedidos de pronome possessivo masculino: “Não entendo: dizem que puxei a meu pai, e mamãe garante que sou filho de meu tio.”
  • Antes de nomes próprios que repelem o artigo: “paulinho fez uma promessa a Santa Terezinha.”
    • haverá crase quando o nome admitir o artigo: “Os estuários e os deltas chegaram à Mesopotâmia…”.
  • Antes da palavra casa quando se referir à própria casa: “Voltei acasa para pegar o guarda-chuva”.
    • Se a casa for de outra pessoa ou vier especificada, terá lugar o acento da crase: “Retornou à casa de tolerância. Tinha esquecido lá o guarda-chuva”.
  • Nas locuções formadas com a repetição de palavras: “Cara a cara com o gol.”
  • Antes do substantivo terra, em oposição a bordo e mar:  “Assim que viu o tubarão, o surfista voltou a terra.”, “Após a longa viagem, os marinheiros desceram aterra excitados, falando alto, querendo saber onde ficavam os lupanares”.
    • Fora desses casos, diz-se: “Os astronautas voltaram à Terra.” e “os marinheiros voltaram à terra natal.”.
  • Antes de artigos indefinidos e de pronomes pessoais e interrogativos, à exceção de senhora e senhorita:
    • Recorreram a mim, que mal posso com uma porca pelo rabo…
    • Referiu-se a uma antiga lei que o advogado disse conhecer.
    • Advirto à senhora que aqui na corte…
  • Antes de outros pronomes que repelem o artigo, o que ocorre com a maioria dos indefinidos e relativos e boa parte dos demonstrativos:
    • A quem Deus bem quer, dá-lhe fortuna e não mulher.
  • Antes de numerais cardinais referentes a substantivos não determinados pelo artigo.
    • Chega a trezentos o número de parlamentares comprometidos com a bandalheira.
  • Antes de verbos
    • O uso deste trajo não o torna apto a voar.

Como sempre, as exceções são em maior número do que as regras.

Tudo bem! Ninguém merece. Admitimos que se trata de uma grossa molecagem, mas não se esqueçam de trazer tudo muito bem decoradinho quando forem prestar concurso público.

As informações acima estão no livro “Novíssima Gramática do Velho Português“, pags. 167 a 172.

Porque, por que, porquê e por quê

Por que os Flintstones comemoram o Natal se eles vivem num período anterior ao nascimento de Cristo?

Por mais que se estude a morfologia das palavras da língua portuguesa, ainda fica a dúvida sobre o uso dos porquês (porquês?).

Vamos recorrer ao livro do Rogério Barbosa Lima, a Novíssima Gramática do Velho Português, para tentar entender a questão.

Porque – escreve-se quando é causa ou explicação do que quer dizer:

  • Ele não governa porque é preguiçoso.
  • O povo vota nele porque é burro.
  • Propõe causa possível, mesmo com interrogação: O preso fugiu porque subornou o guarda?

Por que – grafa-se em duas palavras quando:

  • Significa pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais, caso em que a palavra que é pronome relativo: “Não revelou os motivos por que não compareceu à reunião.”.
  • Equivale a por qual, por quais, sendo o pronome indefinido: “Queria saber por que sempre ferram a classe média quando querem seduzir os pobres.”.
  • É possível subentender uma das palavras motivo, causa: “O vampiro ansiava por que o dia terminasse logo.”.

Ocorrência dupla – exemplos:

Por que é útil ensinar religiões alternativas nas escolas?

Porque assim sabemos que não estamos perdendo nada.

Por que a França promoveu testes nucleares no Pacífico?

Porque seria uma irresponsabilidade fazê-lo no centro de Paris.

Muitas vezes, é justamente a grafia junto ou separado que nos vai dar o sentido da frase: “Ninguém sabe por que ele não explicou” significa que desconhece o motivo da ausência de explicação. “Ninguém sabe porque ele não explicou” denuncia que o fato de não ter explicado é o verdadeiro motivo de ninguém saber.

E agora que todo mundo sabe por que não chegam ao conhecimento do povo as decisões dos governantes, passemos adiante.

Porquê – escreve-se porquê, junto e com acento, quando é substantivo, sinônimo de causa, motivo, razão:

  • O aluno afirmou que eucaristia “é o aumento do custo de vida” e ainda quer saber o porquê da reprovação.

Por quê – Grafa-se no final da frase ou depois de pausa acentuada. Equivale a por qual razão:

  • Sabe-se que o urso polar é canhoto e que o crocodilo não consegue botar sua língua para fora. O diabo é que ninguém sabe nos explicar por quê.
  • Considerava-se onipotente: não sabia por quê, mas ele acabaria por vencer.
  • Sexo é uma doença, porque sempre termina na cama. Segundo os psicólogos, é f… de se explicar por quê.

Espero que tenham aprendido pelo método estúrdio, mas proficiente, do Rogério.