Usando corretamente os porquês

Uma das primeiras dicas publicadas aqui tratava, exatamente, da maneira correta de escrever os porquês. As informações foram obtidas na “Novíssima Gramática do Velho Português“, do nosso amigo Rogério Barbosa Lima, e está aqui para quem desejar rever.

Visitando o “Rato de Biblioteca“, da nossa amiga Cristine Martin, descobri um link para Por Trás das Letras, onde o professor J. Milton Gonçalves publicou um artigo no qual detalha as Pérolas de Paulo Coelho, extraídas do livro “O Alquimista“. Mesmo estando na 159ª edição, a quantidade de erros de português é impressionante.

O uso dos porquês é um dos erros mais comuns e J. Milton Gonçalves dá uma dica:

Veja como mestre Salomão Serebrenick elucida o caso sem magia nem bruxaria, no seu fabuloso livro 70 Segredos da Língua Portuguesa:

“A melhor norma prática a seguir é esta: só juntar os dois elementos num único caso — quando se tratar de uma resposta ou de uma explicação; nos demais casos, que constituem a grande maioria, separar os dois elementos.

Em final de frase, acentua-se o e: Já sei por quê. Também se acentua quando se trata de substantivo: É bom conhecer o porquê das coisas .”

Porque, por que, porquê e por quê

Por que os Flintstones comemoram o Natal se eles vivem num período anterior ao nascimento de Cristo?

Por mais que se estude a morfologia das palavras da língua portuguesa, ainda fica a dúvida sobre o uso dos porquês (porquês?).

Vamos recorrer ao livro do Rogério Barbosa Lima, a Novíssima Gramática do Velho Português, para tentar entender a questão.

Porque – escreve-se quando é causa ou explicação do que quer dizer:

  • Ele não governa porque é preguiçoso.
  • O povo vota nele porque é burro.
  • Propõe causa possível, mesmo com interrogação: O preso fugiu porque subornou o guarda?

Por que – grafa-se em duas palavras quando:

  • Significa pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais, caso em que a palavra que é pronome relativo: “Não revelou os motivos por que não compareceu à reunião.”.
  • Equivale a por qual, por quais, sendo o pronome indefinido: “Queria saber por que sempre ferram a classe média quando querem seduzir os pobres.”.
  • É possível subentender uma das palavras motivo, causa: “O vampiro ansiava por que o dia terminasse logo.”.

Ocorrência dupla – exemplos:

Por que é útil ensinar religiões alternativas nas escolas?

Porque assim sabemos que não estamos perdendo nada.

Por que a França promoveu testes nucleares no Pacífico?

Porque seria uma irresponsabilidade fazê-lo no centro de Paris.

Muitas vezes, é justamente a grafia junto ou separado que nos vai dar o sentido da frase: “Ninguém sabe por que ele não explicou” significa que desconhece o motivo da ausência de explicação. “Ninguém sabe porque ele não explicou” denuncia que o fato de não ter explicado é o verdadeiro motivo de ninguém saber.

E agora que todo mundo sabe por que não chegam ao conhecimento do povo as decisões dos governantes, passemos adiante.

Porquê – escreve-se porquê, junto e com acento, quando é substantivo, sinônimo de causa, motivo, razão:

  • O aluno afirmou que eucaristia “é o aumento do custo de vida” e ainda quer saber o porquê da reprovação.

Por quê – Grafa-se no final da frase ou depois de pausa acentuada. Equivale a por qual razão:

  • Sabe-se que o urso polar é canhoto e que o crocodilo não consegue botar sua língua para fora. O diabo é que ninguém sabe nos explicar por quê.
  • Considerava-se onipotente: não sabia por quê, mas ele acabaria por vencer.
  • Sexo é uma doença, porque sempre termina na cama. Segundo os psicólogos, é f… de se explicar por quê.

Espero que tenham aprendido pelo método estúrdio, mas proficiente, do Rogério.